Devido a pedidos, vamos colocar aqui o folhetim completo, que sai com cada edição do jornal (completo, veja bem, até onde já saiu no jornal - não queremos estragar a surpresa).
Nesta seção publicaremos um folhetim – uma estória dividida em capítulos, mais ou menos como uma novela (na verdade, os folhetins ajudaram a criar a moderna novela da TV).
No nosso caso, o folhetim é baseado em fábulas – cada título é retirado de uma fábula, como as de La Fontaine, Esopo, etc, exceto pelo primeiro, que é o título de nosso folhetim.
Os trabalhadores e o castelo sem fim - Edição 01
Era uma vez, num reino muito
próximo, trabalhadores que construíam um castelo de sonhos.
Seu esforço fazia com que suassem, e eles usavam o suor como argamassa para cimentar os blocos de ideias que formavam as paredes do castelo. A fundação era feita de argumentação armada com respeito, o piso era feito de tábuas de tempo.
Seu trabalho lhes trazia lágrimas – às vezes de ternura, às vezes de sensibilidade, às vezes de frustração – e eles as usavam para fazer os vidros do castelo.
Os trabalhadores mais experientes e estudados coordenavam o trabalho e produziam os blocos de ideias. Seu trabalho mais importante, entretanto, era treinar os aprendizes e ajudá-los a construir seus próprios blocos de ideias.
Outro grupo cuidava dos afazeres do castelo, da administração, organização e limpeza. Seu trabalho era importantíssimo para a manutenção do castelo e do canteiro.
O terceiro grupo eram os aprendizes, cada qual com seu talento e aptidão, cada qual com sua personalidade.
E também havia os ratos.
Seu esforço fazia com que suassem, e eles usavam o suor como argamassa para cimentar os blocos de ideias que formavam as paredes do castelo. A fundação era feita de argumentação armada com respeito, o piso era feito de tábuas de tempo.
Seu trabalho lhes trazia lágrimas – às vezes de ternura, às vezes de sensibilidade, às vezes de frustração – e eles as usavam para fazer os vidros do castelo.
Os trabalhadores mais experientes e estudados coordenavam o trabalho e produziam os blocos de ideias. Seu trabalho mais importante, entretanto, era treinar os aprendizes e ajudá-los a construir seus próprios blocos de ideias.
Outro grupo cuidava dos afazeres do castelo, da administração, organização e limpeza. Seu trabalho era importantíssimo para a manutenção do castelo e do canteiro.
O terceiro grupo eram os aprendizes, cada qual com seu talento e aptidão, cada qual com sua personalidade.
E também havia os ratos.
Os animais doentes da peste - Edição 2
Os ratos eram um problema no castelo em
construção.
Como em todos os lugares em que há ratos, se há comida e onde se abrigar, e ninguém faz nada, eles se multiplicam rapidamente.
Mas estes eram um pouco diferentes – vivendo no castelo encantado ainda em construção e ali observando os trabalhadores, aprenderam algo, ficaram mais espertos. Aprenderam que deveriam se organizar para conseguirem o que queriam.
Enquanto isso, os trabalhadores, envolvidos com os diversos projetos, as variadas tarefas e os grandes problemas de erguer um castelo do nada, deixaram os ratos proliferarem.
Em realidade, muitos trabalhadores acreditavam que os ratos, como seres vivos, deveriam ser deixados em paz, deveriam poder viver suas vidas como bem quisessem. Mas ratos não dividem, não constroem, não acrescentam – eles destroem, poluem e contaminam. E estes não eram diferentes.
Os ratos, então, decidiram esconder-se dos trabalhadores enquanto se organizavam, aumentavam seus números e preparavam uma grande reunião.
Como em todos os lugares em que há ratos, se há comida e onde se abrigar, e ninguém faz nada, eles se multiplicam rapidamente.
Mas estes eram um pouco diferentes – vivendo no castelo encantado ainda em construção e ali observando os trabalhadores, aprenderam algo, ficaram mais espertos. Aprenderam que deveriam se organizar para conseguirem o que queriam.
Enquanto isso, os trabalhadores, envolvidos com os diversos projetos, as variadas tarefas e os grandes problemas de erguer um castelo do nada, deixaram os ratos proliferarem.
Em realidade, muitos trabalhadores acreditavam que os ratos, como seres vivos, deveriam ser deixados em paz, deveriam poder viver suas vidas como bem quisessem. Mas ratos não dividem, não constroem, não acrescentam – eles destroem, poluem e contaminam. E estes não eram diferentes.
Os ratos, então, decidiram esconder-se dos trabalhadores enquanto se organizavam, aumentavam seus números e preparavam uma grande reunião.
O fazendeiro e a víbora - Edição 3
Não pense, leitor, que o castelo, por ser encantado, funcionava às mil maravilhas. Havia problemas, é claro, vários problemas, grandes e pequenos, tanto em relação ao castelo quanto aos trabalhadores.
Por estar no começo, faltavam muitos espaços necessários. O salão de bailes, por exemplo, fora deixado para depois, já que não era tão importante para o funcionamento do castelo, assim como o grande salão de jantar e os aposentos dos hóspedes, mas estava tudo nos planos.
Os trabalhadores, muitos e com vidas diferentes, tinham problemas em concordar em relação a muitas coisas, desde se as lágrimas de que faziam os vidros deveriam ser tingidas, e de quê cor tingi-las, até o exato número de torres que o castelo deveria ter. Mas todos concordavam que deveriam continuar o trabalho e ir decidindo em conjunto como erguer a construção.
E aí os ratos viram sua chance.
Infiltrando-se nas brechas, aumentando os problemas, criando intrigas entre os trabalhadores, convenceram vários deles a ficarem do seu lado, fazendo parecer que o castelo nunca ficaria pronto, que não havia interesse real por ele, que o castelo, em realidade, tinha suas fundações no ar.
Os ratos, então, baixaram sua maior carta e organizaram uma grande reunião.
Por estar no começo, faltavam muitos espaços necessários. O salão de bailes, por exemplo, fora deixado para depois, já que não era tão importante para o funcionamento do castelo, assim como o grande salão de jantar e os aposentos dos hóspedes, mas estava tudo nos planos.
Os trabalhadores, muitos e com vidas diferentes, tinham problemas em concordar em relação a muitas coisas, desde se as lágrimas de que faziam os vidros deveriam ser tingidas, e de quê cor tingi-las, até o exato número de torres que o castelo deveria ter. Mas todos concordavam que deveriam continuar o trabalho e ir decidindo em conjunto como erguer a construção.
E aí os ratos viram sua chance.
Infiltrando-se nas brechas, aumentando os problemas, criando intrigas entre os trabalhadores, convenceram vários deles a ficarem do seu lado, fazendo parecer que o castelo nunca ficaria pronto, que não havia interesse real por ele, que o castelo, em realidade, tinha suas fundações no ar.
Os ratos, então, baixaram sua maior carta e organizaram uma grande reunião.
A assembleia dos ratos - Edição 4
A reunião organizada pelos ratos foi um grande evento, reunindo não só os trabalhadores do castelo, mas também os ratos de vários outros povoados vizinhos, que foram até o castelo ajudar seus colegas.
Muitos trabalhadores, guardando rancores de diferenças com seus colegas de trabalho, influenciados pelos ratos a acreditarem que o castelo nunca seria terminado, desanimados por verem que a construção demorava demais para seus gostos, apoiavam os ratos, quase incondicionalmente.
Os ratos incitaram as desavenças durante a reunião e provocaram discussões, enquanto se alimentavam do ódio e medo que geravam, levando os trabalhadores a fúria, oferecendo tochas e forcados. Enquanto alguns ratos apontavam para trabalhadores que haviam desconfiado dos ratos, outros apontavam para o castelo como o real problema. Outros, ainda, afirmavam serem os organizadores locais da construção os culpados por todos os problemas.
Desta forma, os trabalhadores investiram uns contra os outros e contra o castelo, destruindo parte do trabalho que já havia sido feito e criando novos criadouros para os ratos, os únicos beneficiados com toda esta estória.
Muitos trabalhadores, guardando rancores de diferenças com seus colegas de trabalho, influenciados pelos ratos a acreditarem que o castelo nunca seria terminado, desanimados por verem que a construção demorava demais para seus gostos, apoiavam os ratos, quase incondicionalmente.
Os ratos incitaram as desavenças durante a reunião e provocaram discussões, enquanto se alimentavam do ódio e medo que geravam, levando os trabalhadores a fúria, oferecendo tochas e forcados. Enquanto alguns ratos apontavam para trabalhadores que haviam desconfiado dos ratos, outros apontavam para o castelo como o real problema. Outros, ainda, afirmavam serem os organizadores locais da construção os culpados por todos os problemas.
Desta forma, os trabalhadores investiram uns contra os outros e contra o castelo, destruindo parte do trabalho que já havia sido feito e criando novos criadouros para os ratos, os únicos beneficiados com toda esta estória.
A liga dos animais - Edição 5
Os ratos conseguiram o que queriam, finalmente. Todo o espaço do castelo em construção, agora abandonado por parte dos trabalhadores, foi ocupado por eles. Em cada canto, um ninho. Em cada parede, marcações dos ratos. Em cada espaço, um rato armado com pau ou pedra patrulhava os novos domínios que haviam conquistado.
Lentamente, pouco a pouco, a construção foi fi cando cada vez mais vazia de trabalhadores e mais cheia de ratos.
Como se sabe, ratos apenas consomem, não produzem, não gerem, e o campo de obras, ainda frágil, foi ficando mais e mais parecido com o paraíso imaginado pelos ratos, que quebravam os vidros feitos de lágrimas, que arrancavam o assoalho de tempo, que enfraqueciam a argamassa de suor, fazendo com que os blocos de ideias ruíssem e as paredes, erguidas com tanto sacrifício, desmoronassem, criando, assim, mais espaços para os ratos proliferarem, enquanto prometiam que aquilo era o melhor para todos.
As relações entre os trabalhadores ficaram piores que a estrutura do ainda incompleto castelo. Ódios afloraram, agressões tornaram-se comuns, e os trabalhadores começaram a cortar relações entre si, a maioria levada à irracionalidade pelos ratos.
A existência do castelo ficou em perigo, e começou-se a pensar se o castelo deveria, enfim, ser concluído ou não.
Lentamente, pouco a pouco, a construção foi fi cando cada vez mais vazia de trabalhadores e mais cheia de ratos.
Como se sabe, ratos apenas consomem, não produzem, não gerem, e o campo de obras, ainda frágil, foi ficando mais e mais parecido com o paraíso imaginado pelos ratos, que quebravam os vidros feitos de lágrimas, que arrancavam o assoalho de tempo, que enfraqueciam a argamassa de suor, fazendo com que os blocos de ideias ruíssem e as paredes, erguidas com tanto sacrifício, desmoronassem, criando, assim, mais espaços para os ratos proliferarem, enquanto prometiam que aquilo era o melhor para todos.
As relações entre os trabalhadores ficaram piores que a estrutura do ainda incompleto castelo. Ódios afloraram, agressões tornaram-se comuns, e os trabalhadores começaram a cortar relações entre si, a maioria levada à irracionalidade pelos ratos.
A existência do castelo ficou em perigo, e começou-se a pensar se o castelo deveria, enfim, ser concluído ou não.
O asno na pele de leão - Edição 6
Os ratos haviam dominado todo o castelo. Muitos trabalhadores, assustados com a violência dos ratos, afastaram-se. Outros, ainda
iludidos com suas promessas e profecias, apoiavam suas atividades.
Mas a maioria se mantinha afastada.
E, aos poucos, os trabalhadores começaram a perceber que as melhorias prometidas pelos ratos, todo seu discurso de um castelo
melhor, referiam-se apenas a eles próprios, ratos. E começaram a perceber que, como todo rato, estes também eram covardes quando enfrentados, e começaram a voltar ao castelo.
O castelo estava em frangalhos. E, de cada buraco, de cada fresta, os ratos espreitavam os trabalhadores retornando e tentavam entender onde seu plano havia dado errado.
Os trabalhadores, vendo o estado do castelo, a precariedade em que sua existência se encontrava, tudo o que havia sido destruído e pensando em quanto trabalho seria preciso para consertar os danos, decidiram dar um basta ao reinado ratinheiro e, organizando-se, planejaram retomar o controle de seu castelo. E seu primeiro passo foi mostrar aos apoiadores dos ratos o que eles realmente estavam fazendo com seus esforços.
iludidos com suas promessas e profecias, apoiavam suas atividades.
Mas a maioria se mantinha afastada.
E, aos poucos, os trabalhadores começaram a perceber que as melhorias prometidas pelos ratos, todo seu discurso de um castelo
melhor, referiam-se apenas a eles próprios, ratos. E começaram a perceber que, como todo rato, estes também eram covardes quando enfrentados, e começaram a voltar ao castelo.
O castelo estava em frangalhos. E, de cada buraco, de cada fresta, os ratos espreitavam os trabalhadores retornando e tentavam entender onde seu plano havia dado errado.
Os trabalhadores, vendo o estado do castelo, a precariedade em que sua existência se encontrava, tudo o que havia sido destruído e pensando em quanto trabalho seria preciso para consertar os danos, decidiram dar um basta ao reinado ratinheiro e, organizando-se, planejaram retomar o controle de seu castelo. E seu primeiro passo foi mostrar aos apoiadores dos ratos o que eles realmente estavam fazendo com seus esforços.
O fazendeiro e a cegonha - Edição 7
Os ratos, ao ver que os trabalhadores afastados e alguns apoiadores percebiam todo o dano que havia sido causado, começaram a entrar em pânico. Mas não conseguiam mais convencer nem coagir ninguém – as informações estavam chegando, e os ratos não conseguiam mais contê-las.
Os trabalhadores começaram a voltar ao castelo, enfrentando os ratos que guinchavam e exibiam os dentes, mas os ratos, sendo ratos, fugiam ao verem que os trabalhadores não mais se intimidavam e reocupavam seus espaços no castelo.
A destruição era clara. Muito do que já estava construído havia sido desfeito pelos ratos, mas nada era pior que os abismos criados por eles entre os trabalhadores. Os prédios, os vidros, os assoalhos poderiam ser reconstruídos – com penar, certamente, mas era possível. Mas as relações, desgastadas, precisariam de muito mais trabalho.
Curiosamente, os trabalhadores, unidos pela devastação do que já haviam feito, passaram a rejeitar os ratos e seus apoiadores. Mesmo os que haviam sido enganados pelos ratos e gostariam de voltar à construção passaram a ser vistos como aliados dos ratos.
Mas hoje, conforme o tempo foi passando, muitos desses apoiadores juntaram-se aos outros trabalhadores na construção do castelo e passaram a repudiar as estratégias dos ratos.
Os reparos foram feitos, como possível, e a construção recomeçou. Hoje o castelo cresce lentamente, usando as mesmas técnicas tradicionais de esforço e suor.
Mas eles continuam por lá, os ratos, esperando sua próxima chance
Moral: Sempre vai haver ratos, prontos a destruir o que outros constroem.
Os trabalhadores começaram a voltar ao castelo, enfrentando os ratos que guinchavam e exibiam os dentes, mas os ratos, sendo ratos, fugiam ao verem que os trabalhadores não mais se intimidavam e reocupavam seus espaços no castelo.
A destruição era clara. Muito do que já estava construído havia sido desfeito pelos ratos, mas nada era pior que os abismos criados por eles entre os trabalhadores. Os prédios, os vidros, os assoalhos poderiam ser reconstruídos – com penar, certamente, mas era possível. Mas as relações, desgastadas, precisariam de muito mais trabalho.
Curiosamente, os trabalhadores, unidos pela devastação do que já haviam feito, passaram a rejeitar os ratos e seus apoiadores. Mesmo os que haviam sido enganados pelos ratos e gostariam de voltar à construção passaram a ser vistos como aliados dos ratos.
Mas hoje, conforme o tempo foi passando, muitos desses apoiadores juntaram-se aos outros trabalhadores na construção do castelo e passaram a repudiar as estratégias dos ratos.
Os reparos foram feitos, como possível, e a construção recomeçou. Hoje o castelo cresce lentamente, usando as mesmas técnicas tradicionais de esforço e suor.
Mas eles continuam por lá, os ratos, esperando sua próxima chance
Moral: Sempre vai haver ratos, prontos a destruir o que outros constroem.